quarta-feira, 9 de abril de 2008

Anotações

Em algum livro de Guimarães Rosa, me deparei pela primeira vez, com algo que eu iria fazer muitas vezes.
Aprendi com ele e pratico (pratiquei, bem na verdade. hoje, nao encontro tempo) a anotação de tudo que vejo, passo, sinto e experimento.
Se a gente perceber, muito mais válido é a descrição do que vivemos do que relatar apenas nosso dia-a-dia. Por isso, um diário nunca me foi tão interessante. E se já o tive, existia nele, minha forma peculiar de fazê-lo.
O que me faz ter recordações de quando eu era criança é reler num álbum de infância, a comida que eu comia e do que ela era feita, é pensar no cheiro da panela da minha tia, no perfume do quarto antido da minha tia-avó e do cheiro de cânfora proveniente da artrite da minha avó.
Meus diários de viagem, vêm sempre com recortes de embalagem de cachorro-quente, o perfume que era marcante do local, fossem flores, chuva, ou o perfume de alguém.
Meu primeiro namorado e marido, me lembra o cheiro de Uomini, e as palavras que me recordo são as que copiei de nosso primeiro diálogo.
Eu anoto cores, pessoas, lugares, cheiros, comidas... principalmente e tão somente os detalhes. Um fato, uma brincadeira, um barulho, uma música.
Eu não preciso contar desde o momento que acordei até o que fui deitar, mas anotar o que vivenciei, em qualquer um dos meus cinco sentidos, de mais importante é o que vai ficar.
Todos deveriam experimentar fazer isso. Nossa bagagem de lembranças vivas, digo: com cheiro, com cor, com sabor, seriam muito melhores.
Assim fica mais fácil também de se esquecer do que não foi tão bom. Porque o que não é bom, a gente elimina rapidamente... não aproveita, não degusta.
Eu se pudesse dar-te um conselho, diria: faça um fichamento da sua vida. Um bloquinho de anotações... de viagens, de momentos, de dias comuns, de pessoas, de períodos da vida. Viva, viva muito mais!


"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens." Guimarães Rosa

2 comentários:

Madame Mim disse...

Partner!

Que texto massa!
Antes eu guardava tudinho, hoje não mais...para circular energia, capiche?
beijos!

Morena disse...

Bebi a amei!
Nos dê mais um gole?
Bjus.

Drink me

Não te interessa dizer quem sou. Talvez te interesse o que eu tenho pra dizer. As coisas que eu sei.... As coisas que eu vi. Tudo por que passei. Não me sirvo em um copo, mas me permito dar-me em doses. Doses de mim. Se apreciar, beba sem moderação. Se não gostar, me vomite. Não me importarei.