quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Drogas da vida (LÍCITAS!!!!)

Quem nunca tomou que atire a primeira pedra.
Com nove anos de idade, após perder uma tia que era uma mãe e morava comigo, eu tive psoríase.
Para quem conhece ou não, o que posso dizer é que é uma doença psicossomática. Pena que naquela época eu não fazia idéia do que se anunciava. E minha mãe nunca soube e nem sabe o quanto traumas e problemas emocionais abalam nossa saúde. Ou melhor, devem ser considerados problema de saúde.
Hoje acredito que todos nós passamos por problemas emocionais e/ou psicológicos, e quando acometidos de algo do tipo, devemos encarar não apenas como uma fase, mas como uma doença.
O fato é que eu penso isso hoje, com 31 anos, depois de relutar muito.
Aos quinze anos perdi meu pai para um câncer de forma brutal e rápida. Eu achei que não tinha sido um golpe tão forte. Mas claro que foi. Aos 16 anos eu ainda não menstruara e minha auto-estima era baixíssima e a insegurança altíssima.
Aos 17 me vi evoluindo e me achava a adolescente bem-resolvida e nada revoltada.
Balela! Eu sofria horrores e me escondia numa fachada "cool".
Aos 18 me apaixonei pela primeira vez e foi um desastre. Fui humilhada, moralmente assediada, sofri todo tipo de violência verbal e emocional. (na época não sabia disso... devia ter processado esse desgraçado!)
Foi então que conheci a 'depressão'.
Foram meses sem vontade de sorrir, de viver, de sair, de comer, de ver TV, de fazer nada. Eu perdi meu primeiro emprego sério, comecei a pensar em abandonar a faculdade já que não tinha vontade nem de ir às aulas. Eu cursava UERJ, um sonho, e agora tudo era pesadelo.
Mas eu não podia contar para ninguém o motivo disso. Eu havia perdido a virgindade com um louco manipulador e cruel, e minha mãe achava que eu ainda nem pensava nisso.
Se eu não podia dividir, eu não podia aceitar que estava em depressão. Eu precisava superar e fingir. Tomei muita neosaldina, plasil, buscopan.... sentia dores que iam além das da alma, era no meu corpor mesmo.
Depois de alguns meses foi melhorando.... o cafajeste me procurou, eu consegui usar isso a meu favor. Levantei a poeira, dei um troco humilde perante tudo q passei, e resolvi mudar.
Foi aí que aprendi a beber. Aos quase 19 anos eu começava a beber cerveja. No início nem gostava muito, mas era legal. Todos bebiam, dava aquela leve embriaguês.
A vida passou a ser mais tranquila. Amigos, novo e verdadeiro amor surgiu, saídas, viagens, trabalho novo. Tudo super dez.
Mas agora eu bebia, tragava uns cigarros de vez em quando de alguém, me enchia de comprimidos ao menor sinal de enxaqueca, tontura, enjôo....
Só que até então eu ainda não tinha parado para pensar aonde ficara guardado aquelas experiências traumáticas que eu quis acreditar que tinha superado.
E nesses meus últimos cinco anos de vida é que posso dizer aonde estava guardado.
Estava guardado num canto oculto de mim, onde lá eu fui adestrada a conviver, me acostumar e viciar na dor. Como um cachorro preso por anos, que quando abrem a porta ele não corre por medo do que o espera, eu me trancafiei nas minhas experiências e não sabia que tinha adquirido compartamentos que me aprisionavam e me faziam mal.
Todas as experiências de relacionamento que tive de lá pra cá, principalmente amorosa, foram baseadas em manipulação sobre mim, em ciclos de rompimentos e brigas, em situações de escravidão emocional, em dependência, em desrespeito e muitas vezes humilhação.
Ciclos que me levaram a mesma falta de vida do episódio um do carinha que gostei. Ciclos que me fizeram passar por humilhações e dominações que eu mesma me permiti.
Ciclos que me levaram a depressão muitas vezes. Me fizeram perder pessoas, tempo, situações importantes. E eu nunca acreditei que eu, a menina extrovertida, que chama atenção, poderia ter momentos depressivos e estar simplesmente: doente!
Eu precisei passar novamente por isso, agora com duas filhas e um trabalho que é a alavanca para meu futuro, para eu ver que não podia mais uma vez me deixar convencer que é apenas tristeza, uma fase ruim, ou qualquer besteira que eu inventava para dizer que eu era forte e que depressão não era coisa pra mim!
Como a gente se engana.
Não adianta sair para beber, ver amigos, curtir night. Não adianta esquecer o amor que nos magoou, nem a pessoa que nos traiu, nem aquela atitude que esperamos de alguém e não tivemos. Não adianta esquecer. Não adianta fingir. É preciso superar.
Por mais de um ano eu estive nessa. Por um tempo fingi que não sofria. Por outro tentei dominar e fingir que era eu no controle. Em outro voltei a me ver medíocre perante quem deveria me valorizar e lá me via novamente nos remédios.
Agora, já era relaxante muscular com cerveja, pra dar sono. (Logo eu que nunca tive insônia... sono me sobrava!)
Era dramin ou durmonid para não ficar acordada com a mente trabalhando em prol das maluquices.
Roubei sertralina do armário da minha mãe. Deu efeito rebote. Tive espasmos musculares, tremores horríveis, a perna chacoalhava, a cabeça formigava. Eu fiquei quente, descontrolada, pensei que ia morrer.
Achei melhor ficar depre.... o tandrilax com cerveja me dava risos, depois sono e mais sono.
Foi aí que adoeci. Me vi com um tumor no rim e tive que tirar o direito. Me vi com infecção da cirurgia. Me vi com enjôos e alterações hormonais. Depois foi colite nervosa, adenite peritoneal, fora as alergias de pele e olhos.
Ah meus 9 anos.... se a gente soubesse que lá naquela época meu corpo já avisava que eu sempre somatizaria meus problemas emocionais!
Hoje parei. Parei para me ver.
Eu cuido das minhas filhas, dos amigos, dos colegas de trabalho. Escuto, ligo, considero, zelo!
Eu saio, eu ainda bebo minha cerva, danço. Mas quando eu paro para olhar para mim mesma, naqueles minutos que o nada domina sua mente, eu vejo que ainda há tudo ali... dos 9, 15, 18, 26 anos! Eu estive doente muitas vezes e deixei o vírus não-ativo, mas lá. E hoje, diante de mais um período de tristeza, de separação, de problemas eu vejo que cuidei pouco do meu emocional.
Perdi pessoas, me permiti para outras que não valiam. Fui sempre vítima de ciclos que eu hoje vejo bem, mas fui a ré para quem não sabia que pequenas atitudes numa alma doente pode acarretar.
Eu não sabia, ninguém podia saber.
Meu maior passo foi aceitar o que nunca quis ver. É hoje saber: estou doente. Doença crônica, me acompanha da infância. Ela me tornou quem não sou. Ela me fez aceitar o que ser humano nenhum deve aceitar. Ela me fez achar que conseguia ser feliz mesmo sofrendo.
Sim, hoje aceito que tenho uma doença. E com isso quero salvar meu corpo, meus relacionamentos, minhas filhas, meu futuro.
Muita coisa não terá como recuperar.
Muitas sim, pois estão a frente e não tive tempo de perdê-las ainda.
Se tiver que tomar rivotril, olcadil, lexotan, ou qualquer outra coisa, que seja. Mas pelo tempo suficiente de poder me ver livre dos sintomas, que eu mascarei até então, atrás do trabalho, das minhas filhas, da night e dos amigos.
Só que o que quero mesmo é tirar todo tipo de droga da minha vida: remédio, pessoas, situações, ciclos viciosos, escravidões, jogos mentais.

Se vc precisa se drogar (licitamente), sumir, gritar, chorar... faça. Mas não passe por isso achando que resolveu. Você apenas pulou. E pular não é resolver.
Assuma o problema e ache sua solução.
Eu me considero feliz, mas ainda serei muito mais, porque hoje eu sei de cada etapa que pulei e estou resgatando a tempo de mudar minha vida.

Lembrem-se: Pessoas podem ser muito perigosas, ainda mais quando você deixa a porta aberta para elas.
E: Vc também pode torná-las perigosas, na medida do que você foi acostumado e acredita ser sua realidade.
Acredite: NUNCA É, MUDE-A.

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Drink me

Não te interessa dizer quem sou. Talvez te interesse o que eu tenho pra dizer. As coisas que eu sei.... As coisas que eu vi. Tudo por que passei. Não me sirvo em um copo, mas me permito dar-me em doses. Doses de mim. Se apreciar, beba sem moderação. Se não gostar, me vomite. Não me importarei.