sábado, 27 de junho de 2009

Eu

Seguindo o conselho de uma amiga resolvi escrever.
Em períodos de problemas e mágoas, a gente sempre tenta fugir num copo de cerveja, mas ando com medo.... eles já me criaram problemas demais no passado.
Hoje, eu preciso ser adulta. Eu preciso firmar meu lugar ao sol. Bem, dizer, tenho que impor respeito....coisa que já vi há tempos que tenho certa dificuldade de fazer.
Quando eu era bem pequena, eu já sofria nas mãos dos colegas da escola. Ou porque eu era a CDF ou porque eu era a Olívia Palito.
Me achava o patinho feio....e nao faltava quem colocasse lenha na fogueira pra me fazer acreditar 100% nessa idéia.
Na adolescência, o caos foi completo. Eu perdi uma tia em quem eu era muito grudada, perdi meu pai logo ao completar quinze anos, tinha uma doença que apodrecia todas as minhas unhas e que fazia com que todos os colegas da escola tivessem medo até de me dar a mão. Eu era excluída, era a chacota, era a leprosa. Tinha poucas amigas, mas que não escondiam a pena que tinham de mim. E eu, era a pior de todas, porque eu morria de pena de mim mesma.
Meus peitos nao cresciam, nem perna, nem bunda. Era aquela coisa comprida e magra, de cabelos enrolados e cheios, com dentes tortos e com as mãos piores do que Eduard - maos de tesoura! Se eu me sentia deprimida? Se eu chorava?
Horrores!
Mas sempre teve uma mulher dentro de mim que se achava linda de alguma forma, que se achava poderosa, que se achava até melhor que muitas outras pessoas perfeitas. Eu sabia que eu era inteligente, sabia que pensava mais rápido que a maioria das minhas amigas juntas!
Mas pra mim isso não era o bastante.
Comecei a malhar com 16 anos, juntando dinheiro de merenda de colégio. Comecei a me interessar por uns carinhas e todos me olhavam sem me olhar. Eu me sentia invisível.
Me apaixonei por uns 10 caras que me deram 1% de atenção diante do 0% que eu tinha. Mal sabia eu que não tava recebendo nem metade do que merecia e poderia ganhar.
Aos 17 anos me apaixonei pelo cara mais louco, babaca, surtado e convencido da galera. Eu tava trabalhando em loja, tinha que ter algum dinheiro. As coisas lá em casa tavam difíceis depois da morte do meu pai. Esse carinha dava mole pra todas as vendedoras de loja, inclusive eu. Pra mim nao importava...ele me dava mole! E eu achava ele gato, sarado, malhado e tudo que os caras que nunca olhavam pra mim tinham!
Ficamos algumas vezes. Nao foi meu primeiro beijo, mas foi o primeiro com quem quis ter algo mais. Dias antes de completar 18 anos, ele me avisou que se mudaria pra Fortaleza e que acabaria ali qualquer coisa entre nós. Eu me desesperei. Surtei mesmo. E tomei a decisao: quero perder a virgindade com ele.
E marcamos tudo. E aconteceu.
Uma merda. Nao aquela merda de primeira transa que é sempre ruim, mas uma merda geral aconteceu.
Ele me tratou mal, ele me esculachou, ele gravou na secretária eletrônica ao mesmo tempo que o speaker ligado transmitia pros amigos dele. Ele falou que nunca sentiu nada por mim, só pena. E tava fazendo aquilo pra me libertar, pra me fazer deixar de ser bobinha. Me falou tanta coisa, que eu lembro apenas de ficar muda e ir caindo no chao, meio que sentada, porque me faltava forças. Vi ele pegar uma caixa com todos os meus cartoes e poemas e rasga-los e joga-los em cima de mim rindo. Cena de terror total!!!!!!!!
Saí dali completamente em choque.
Era a primeira vez que eu entrava em depressão. Com 18 anos. Nao comia, nao levantava do sofá, perdi emprego, perdi a vontade de viver. Depois de 3 meses, eu superei. Sozinha. Não sei nem bem como, mas lembro que foram muitas amigas que na época me arrastaram pra Buzios e de lá eu nao saía....era night, cervas e tudo mais!
O patinho feio aqui começou a ligar o foda-se. Se eu nao fosse cisne, ia ter quem gostasse assim mesmo. E se nao gostasse, fodaaaa-se!
Foi aí que as coisas começaram a andar, eu engordei 12 quilos, tava gostosa. Huhu. Minhas unhas deram um jeito, já conseguia fazer unha de porcelana e pareciam lindas e minhas! Meu cabelo tava enoooorme e super escovado. E eu??? Suuper hiper mega blaster confiante em mim.
Foi quando apareceu um fofinho, meio gordinho, de pneus laterais e rosto de criança. Só de imaginar as coincidências todas que aconteceram para eu conhece-lo e pensar que dois anos depois eu estaria casando com ele e em seguida tendo uma filha, é surreal.
Encontrei um cara lindo por dentro e por fora. Homem e amigo admirável. Alguém que nunca saiu da minha vida e com quem eu posso contar até hoje. Sempre com doçura, gentileza, lealdade. A vida me mostrou tanta coisa nessa transição do maluco psico e do meu ex-marido, que eu só posso dizer hoje: Se a gente é do bem, tem que se aguardar, pq se a dor vier, em seguida vem a felicidade.
Dito e feito.
Infelizmente, nós fizemos tudo rápido e jovens demais. Acabamos nos separando e foi a perda mais dolorosa que tive depois da morte do meu pai. Ele ta vivo, gente. Perda = separaçao, ok?
E muuuita coisa aconteceu depois. Conheci pessoas super do bem, caras super FDP, tive outro filho, amadureci horrores, fiquei ainda mais bonita, mais peituda, mais autoconfiante!
E também continuei me decepcionando, errando, caindo, sofrendo e separando.
Hoje, eu to na fase de introspecção. Talvez por isso tenha feito este post quase que de auto-análise. Estou tentando entender meus atos, minha postura, meus defeitos para talvez depois, entender o dos outros.
A fase é obscura, cheia de incertezas, dúvidas. Ainda me encontro perdida, sem saber nem por onde comecar. Mas uma coisa eu aprendi: o dom da paciência. Saber esperar quando nao se sabe o que fazer. A tentativa de resolver as coisas muitas vezes precipita outras que nao estavam no script. Se eu nao sei tanto de mim, como alguem pode saber? O outro também precisa de tempo para se entender e aí também tentar me entender. E sabe se lá se entenderá, eu ainda nao sei se me entenderei.

Na verdade, acho que este post foi mais pra me lembrar de tudo que já passei e pra eu não cair na burrice de me permitir surtar e entrar em depre, como se eu nunca tivesse passado por dificuldade nenhuma. (Olha que nao contei nem um terço das coisas horríveis que já passei.... ex com uma vida horrivel, tumor, internacao, processo contra mim, etc.....)
De certo uma coisa foi boa, o conselho da amiga.... melhor escrever que beber!

Força sempre.
beijo

3 comentários:

Cris disse...

Oi querida.
Nossa, quase chorei lendo isso.
Acho que as pessoas que se superam, que passam pelas fases de patinha feia, são muito mais fortes do que aquelas que já nascem cisne, não é?
Sou sua fã.:)
(não deu pra escrever hoje, com o cuidado que o email merece, mas amanha te escrevo)
beijos

Cris disse...

Força aí, loira.
bjos

Rita disse...

Ai amiga, me deixa tão triste ler essas coisas e não estar pertinho de vc! Te conhenço desde meus 15 anos e sempre tive muito carinho por você, não é à toa que nos tornamos amigas-irmãs! Quem lê esse post acha que vc era uma aberração e nós sabemos que muito disso era psicológico e consequência de uma auto-estima baixíssima. Eu sempre te admirei e você SEMPRE esteva lá quando mais precisei! Todos esses anos se passaram e o que vejo agora é a mesma menina de sempre: linda, inteligente, lutadora e ainda mais especial do que há 15 anos atrás...amo-te!

Drink me

Não te interessa dizer quem sou. Talvez te interesse o que eu tenho pra dizer. As coisas que eu sei.... As coisas que eu vi. Tudo por que passei. Não me sirvo em um copo, mas me permito dar-me em doses. Doses de mim. Se apreciar, beba sem moderação. Se não gostar, me vomite. Não me importarei.